sábado, 13 de novembro de 2010

Mamãe,

Já faz quase 11 anos que não nos vemos. Sinto muito a sua falta, mas sabe? É uma saudade daquelas boas de se sentir.

Justamente no meio desses atropelos entre uma vida e outra que eu me pego pensando em você. Em lhe falar o quanto me inspiro em sua coragem. Por que sim, foi um ato de coragem deixar tudo pra trás e se ver livre dessa cruz pesada que você sempre carregou.

Foi uma partida prevista, mas não menos dolorosa, sofrida e que ate hoje pesam algumas consequências.

Ditiam nunca se recuperou. Ele vive a margem da realidade, não sabe mais onde te procurar. Ele clama aos céus, grita aos 4 ventos e as vezes sai sem avisar, sem rumo, te procurando em cada sorriso de olhos cerrados que ele encontra na rua.

Batiam sofre em silencio. Dorme e acorda pensando que poderia ter sido tudo diferente. Desde sempre. Quem sabe a vida seria menos dura com ela agora. Arrependimento define.
Papai esta bem, encontrou outra pessoa pra suprir o vazio que você deixou. Ela é uma boa pessoa e é muito bonita, assim como você. O bom gosto dele nunca muda. Impressionante. Hoje em dia ele sorri, bastante. Porque não consegue mais chorar. Depois que você se foi, tantas lágrimas rolaram, que parece que a fonte secou. E agora ele simplesmente sorri. Mesmo na dificuldade, ele respira fundo, veste a camiseta mais colorida do armário, coloca aquele chapéu horroroso na cabeça e sorri.

A Paty e o transformam a saudade em nostalgia e risadas nos almoços de família. Seria ótimo se você pudesse dar uns conselhos e umas broncas nesse menino. Ele anda rebelde (sem causa) demais. Daquele jeito que só você conseguiria consertar, sabe?

Bom, e eu...eu me contorno, vou vivendo nesses rabiscos. Tentando virar gente grande e ser tão incrível quanto você. Vivo procurando outros abraços, mas nenhum me conforta o suficiente. Nenhum carinho é sequer parecido. E eu sinto sua falta. E me vem aquela vontade de falar com você. De te dizer que eu sinto muito por muitas coisas.

Primeiro por não ter sido a filha exemplar que você sempre quis que eu fosse. Por ser desastrada demais. Preocupada de menos.

Segundo, por não ter conversado o suficiente com você. Pra descobrir o segredo do sabor do seu feijão, da textura diferente da sua sopa de lentilhas, do tempo de cozimento da sua compota de pêras (que durava mais de 7 horas no fogo e perfumava nossa casa toda) e do tempero especial que você colocava no salpicão de frango.

Assim como os truques de maquiagem que você tinha pra fazer com que o batom durasse o dia todo sem manchar o dente, da gambiarra pra prender todo o cabelo com duas micropresilhinhas camufladas no penteado e da técnica ninja que você tinha pra fazer com que a meia fina não escorregasse e cedesse nas pernas.

Estou melhorando. Aos poucos. Tento cuidar de todo mundo, na medida do (tempo) possível, mas acima disso, estou tentando manter nossa família unida.  O que não e uma tarefa das mais fáceis. De maneira nenhuma. NUNCA.

Acho que você deve saber que agora me comporto bem em público (exceto nas baladas quando eu bebo vodka e tequila), faço cupcakes deliciosos e decorados que te deixariam orgulhosa e aprendi a fazer penteados muito legais só usando grampos e a me maquiar direito. Inclusive, consigo influenciar pessoas através das cores das sombras que eu saio usando por ai. Cada dia uma cor. Ou uma combinação de todas delas. =)

Gostaria de te dizer que eu estou bem. Que sinto sua falta e que muitas vezes tenho medo de esquecer da sua voz e do cheiro do seu perfume, mas que você ensinou tudo direitinho. E o que eu não consertei nessa minha vida torta foi porque eu ainda não descobri como lidar ou ainda não aprendi como esquecer.
                             
                                                                
Beijos com amor, esperando te rever em breve.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tempo ao tempo


Ja fazia um certo tempo que o coração dela não dava sinais de vida muito expressivos. O pulso era sempre fraco e a respiração falhava quando o ar era mais do que necessário.

Ficava aquela sensação de que faltava algo. Algo pra sentir falta, pra sentir desejo, pra sentir ódio que fosse. Mas faltava. SEMPRE. Ela não sabia descrever esse vazio. Definitivamente, era algo que não fazia parte dela.

Ela precisava de tempo. Tempo pra assimilar que as coisas eram muito complicadas pra simplicidade dela e que principes encantados com cavalos brancos só faziam sentido dentro dos contos de fadas que ela ouvia na infância.

Doce infância.

Agora ela era dona de um ceticismo ferrenho, que quase se confundia com pessimismo. Estranho. Afinal ela não era uma pessoa de palavras duras e atos reacionários. No entando, as atitudes daqueles que a rodeavam só a faziam acreditar no que há de mais triste...TODAS ELAS MENTIAM.

Ora por comodismo. Ora por capricho. Ora por diversão. Nunca por necessidade. Isso era lamentável, e ela não tinha como se defender.

Foi ai que ela decidiu fugir. Correr o mais rápido que suas pernas pudessem aguentar. Respirou fundo, tomou distância e partiu. Como um saci desequilibrado ela tropeçou e caiu...de amores...mais uma vez.

Falhando miseravelmente, ela se deu conta que Bali esta cada vez mais distante, mas que a Itália é logo ali.